OLHAR QUE SILENCIA
Perca-se
Salve-se
Queixe-se
Deixe-se
Permita-se.
Possa se puder
Queira se der
Faça sempre o possível
Desista de vez em quando
E tente novamente.
Pare;
Olhe;
Escute;
Fale;
Sinta.
Sinta o paladar amargo das nuvens cinzas
O doce azedo da vida só
O agridoce das tardes vazias
As noites frias nos dias de chuva
As manhãs quentes dos compromissos adiados.
O futuro em conta gotas
O presente sem passado
Um momento único em uma história tola
A vida toda em um segundo
A iminência do imediato.
Olhe para si mesmo
Veja o mundo que construiu
As vidas que destruiu
Os sujeitos que ajudou
A ajuda que faltou.
Olhe para dentro de si mesmo
Cale-se
Critique-se
Deixe-se
Salve o silêncio surdo.
Permita a visão cega
Visão que enxerga a alma pura
Negue-se ao não pensar
Pense em si mesmo ao negar-se
Ouça o seu coração pulsar.
Hoje quis ver o mundo
Enxergá-lo em um recibo um quatro quatro
Em silêncio, só eu.
Quis escutar minha própria voz muda
Quis auscultar a alma das pessoas.
Quis ver o brilho no olhar do algoz
O açoite sem dó nem piedade
A mordida feroz do cão faminto
A riqueza de uns poucos
A miséria de outros tantos.
Hoje quis ver a vida leve
Ver a mãe feliz uma só vez
A mesa farta
O filho radiante
Hoje quis ver o outro.
Hoje quis ouvir suas angústias
Sentir as suas dores
Ver os seus medos
Pisar o seu chão
Tocar o seu céu com minhas próprias mãos.