VÍBORA FAMINTA

O amor desfibra, desespera, camufla,

faz o pó envergar, o chão cravejar,

deixa o vão menos vilão.

O amor trepida gotas de suor,

liquefaz o aço, cambaleia o escuro,

emudece as ondas do mar.

O amor desaglutina medos,

destrilha a razão, desafina Deus,

dopa certezas, desespera o paladar.

O amor esgarça o eco,

faz ferver o sangue do vazio,

esgana câimbras, engana sombras,

faz o tempo se esgueirar pelo ralo.

O amor é víbora faminta,

senzala dos gostares,

réquiem das odes mundanas da fé,

é arlequim desmiolado,

torpor endiabrado, gosma capenga,

pião descontrolado sem opereta final,

porão combalido, réstia enternecida,

poesia berrada no convés da dor.

Dos meus amores já remidos,

das minhas paixões abauladas,

dos meus desejos intocados,

dos meus suores despojados,

das minhas verdades usurpadas,

das minhas alegorias mais triunfais.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 13/06/2019
Código do texto: T6671644
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