Pinheiro
Pinheiro
Sempre que estava lá, via o Pinheiro, mas nunca me havia dado conta de como era peculiar. Não me chamava a atenção, até que num dia passei a observá-lo mais detidamente. Ocorreu-me pensar como aquele Pinheiro poderia ter brotado naquela Silveira.
Ao vê-lo e me acostumar com sua presença, foi como pressentir que ocorria uma comunicação: nada se diz, mas tudo está claro a priori. Foi como o “eu sei que você sabe que eu sei que você sabe que eu sei que você sabe” ... Tudo por entre as sombras do Pinheiro.
O passo seguinte foi imaginar conversas com o Pinheiro. E, claro, ele me escutava frondosamente e, depois, respondia silenciosamente. Um dia, por impulso, cheguei mais perto. Sentia-me imediatamente observado pelo Pinheiro. Estranho, não? Não, para aquele Pinheiro. Seu tronco já me vigiava. Era peculiar.
Eu sempre tinha a nítida impressão de que o Pinheiro me seguia de alguma forma. Pela brisa. Pelos odores. Minha presença de algum modo desconhecido, excitava o Pinheiro. Parecia que se movimentava mais, como a dançar no ar quando eu estava em sua presença. Num outro dia senti-me compelido a encostar nele. Era quase possível ouvir a pulsação de sua seiva viscosa escorrendo.
O Pinheiro era grande, mas, a despeito do tamanho, era elegante. Percebi em mim o fascínio que exercia sobre mim. Mas minha presença também não lhe era indiferente. Agora já não havia mais dúvidas: o Pinheiro realmente se exibia para mim. Não era uma impressão ou uma alucinação. Eu não delirava. O Pinheiro se comunicava comigo na mesma sintonia minha. Ele vibrava por todas as pequenas saliências e reentrâncias.
O Pinheiro como que me enfeitiçara. Eu saia de mim para estar perto dele. Até o dia em que me convidou silenciosamente para escalar seu tronco. Eu tinha medo. Tremia, mas desejava essa aventura, mesmo arriscando uma queda vertiginosa.
Primeiro ocupei-me de duas raízes rotundas envoltas em minúsculos filamentos capilares. Lentamente comecei a escalar o tronco forte e rijo com sofreguidão. Ao envolvê-lo, sentia mais e mais o fluxo de seus sucos viscosos. O medo ficou esquecido. Os tremores já não existiam. Cheguei ao alto da copa do Pinheiro. Era imensa. Forte. Rija. Era como se estivesse feliz por ser um dia quente de verão.
E eis que começou a brotar, lá do alto da copa, uma seiva viscosa, branca como leite. E eu me vi deslizando suavemente pelo tronco do Pinheiro, na correnteza da seiva.
Quando cheguei ao chão, com as mãos lambuzadas e pegajosas, estava sorridente. E o Pinheiro também como que sorria para a vida.
Descansei um pouco sob sua sombra. E fantasiei.