TRÊS PALAVRAS

I.

Sou mesmo aleatório em demasia. Além de deixar o vento

conquistar o leme da nau. Não da vida, mas do pensamento

que visa traduzir algo o qual o pretenso poeta desconhece...

Troco a pilha do controle, passo folhas. Tudo parece um verso

desmontado que flutua entre atritos do dia: a palavra é poesia.

II.

No batente baixo da guia anoto a tarde — feito jogo de bicho

no bloco da rajada fria. Escrevo imagens. Risco o manuscrito

que não resiste acabado. O F5 do tempo acelera os sistemas

e diminui os intervalos. Tudo é muito volátil no éter do poema

e na sua neblina que debocha do infinito: a palavra é abismo.

III.

O outono é um velho de barba longa. Mora na árvore eterna

que espalha as horas coloridas. O perfume profundo da terra

se pronuncia ao redor e acima. Teclo de letra quase mínima

para caber as mentiras. Tudo, todavia, mira no final da linha

aurialecrim que veste o ocaso preto: a palavra é desassossego.