Quando parei de morrer
Morri diversas vezes enquanto escrevia.
Inúmeras vezes ao terminar um livro.
Também morri enquanto me despertava.
Morria como um virar de uma página.
Renasci diversas vezes em muitos lugares.
No animado sorriso, bem ali eu ressurgia.
No choro e na decepção de novo reaparecia.
Em uma montanha distante desconhecida.
Até que um dia, sem notar, sem perceber.
Não mais morri e nem renasci.
Me tornei o vento, a montanha longínqua,
o choro distante e as primeiras luzes do Sol.
Era uma das inúmeras partículas de luz.
Um minúsculo fragmento de asteróide.
O canto da ave que ecoa por quilômetros.
O reflexo de uma nuvem no mar do silêncio.
Não mais morria ou renascia:
eu era o ausente de todas as coisas, um imortal.