Ébano e baobá
Ontem gozei do silêncio que me amou pelas entranhas
brincando e bailando um sapateado celeste nas imagens mentais que se nunca formalizam em fonema (este, que se torna onda a navegar pelo universo das ondas que
o critério das potências eternas
decidiu parir)
Silentes os rascunhos a giz de seiva que a consciência observou nascerem em Si
Foram plantados em um vaso de tulipa magenta que não florescerá porque nunca receberá os retilíneos corpos de sol
(Mas está ali a potência da flor. Em sono dos olhos que se movimentam rápido por eternos em um vaso de barro que o acomoda com perfeição dos vértices tomados pelos cotovelos e joelhos e calcanhares)
As outras [amarelas verdes vermelhas] e todas as cores invisíveis potência de todas as cores que se devora
estão plantadas no canteiro de olhos azuis de Cândido Portinari
Meu corpo cipó se envolve no teu tronculento corpo de sete palmos que
se alimenta dos pés até os olhos tornarem estrelas
que deidificam o sem-cor da noite rubra sem-sol
E fecunda Deus.
Fiquemos assim, meu bem, enquanto a gente se gostar. Depois nos soltamos e seguimos a velejar e
continuamos a nos gostar
Até quando voltaremos à potência imanifesta e seremos os primórdios de toda a existência onírica e nos gostaremos ainda mais.
Lá onde estão adormecidos
em cadeiras de balanço que nunca cessam seu balanço no entorno da mesa de jantar
Os versos perdidos os versos não ditos os versos atenuados até desvanecer
Venta um fluxo em sentido contrário [com tendência ao eterno] ao vetor que prepondera o critério das potências.
(O vento cheira a tulipas magentas
E o olhar azul céreo e sereno do menino deitado no berço de ébano e baobá
Fita, incandescente, vivo e fixo
Do alto dos chãos
A dança crepuscular das nuvens em eterno improviso).