Ébano e baobá

Ontem gozei do silêncio que me amou pelas entranhas

brincando e bailando um sapateado celeste nas imagens mentais que se nunca formalizam em fonema (este, que se torna onda a navegar pelo universo das ondas que

o critério das potências eternas

decidiu parir)

Silentes os rascunhos a giz de seiva que a consciência observou nascerem em Si

Foram plantados em um vaso de tulipa magenta que não florescerá porque nunca receberá os retilíneos corpos de sol

(Mas está ali a potência da flor. Em sono dos olhos que se movimentam rápido por eternos em um vaso de barro que o acomoda com perfeição dos vértices tomados pelos cotovelos e joelhos e calcanhares)

As outras [amarelas verdes vermelhas] e todas as cores invisíveis potência de todas as cores que se devora

estão plantadas no canteiro de olhos azuis de Cândido Portinari

Meu corpo cipó se envolve no teu tronculento corpo de sete palmos que

se alimenta dos pés até os olhos tornarem estrelas

que deidificam o sem-cor da noite rubra sem-sol

E fecunda Deus.

Fiquemos assim, meu bem, enquanto a gente se gostar. Depois nos soltamos e seguimos a velejar e

continuamos a nos gostar

Até quando voltaremos à potência imanifesta e seremos os primórdios de toda a existência onírica e nos gostaremos ainda mais.

Lá onde estão adormecidos

em cadeiras de balanço que nunca cessam seu balanço no entorno da mesa de jantar

Os versos perdidos os versos não ditos os versos atenuados até desvanecer

Venta um fluxo em sentido contrário [com tendência ao eterno] ao vetor que prepondera o critério das potências.

(O vento cheira a tulipas magentas

E o olhar azul céreo e sereno do menino deitado no berço de ébano e baobá

Fita, incandescente, vivo e fixo

Do alto dos chãos

A dança crepuscular das nuvens em eterno improviso).

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 31/05/2019
Reeditado em 31/05/2019
Código do texto: T6661291
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