O VENDAVAL e POESIA DO SACO CHEIO

O VENDAVAL

Farfalham os folhas em face às fugidias feras

Furiosas florescem com força fortuita

Sussurram os sábios sem sabedoria, insossos

Sopapo de solavanco em sagaz verborragia

Virando e quebrando as talhas e taças

Cambaleando os móveis, partindo pedras

Força faminta, feliz e falante

Sopre! Sopra!

Ruja e erija um talo esvoaçante

Fumaça tempestuosa e trêmula

Trabalha com sínteses e chacoalha as fossas

Sopre! Sopra!

****************************************************

POESIA DO SACO CHEIO

Não me interrompa

Nem me amole

Não me pergunte o que faço

Ou o que farás comigo

Sendo que nem eu mesmo sei o que faço

Nem quero nada saber contigo

Hoje estou osso estou nisso

Sou todo meu, nada vosso

Tenho o tempo no ócio

Sou amor e sou ódio

Deixe-me só, apenas acompanhado de mim mesmo

E a minha cólera

Não quero saber de rimas em meu poema

Ou interpretações sobre o que disse

Não quero comentários de quem não leu uma linha sequer

Ou se queres apenas leituras

Queres ser lido? Apenas peça!

Não elogie nada do que não queres se dar ao trabalho de saber

Recuso-me mudar

Embora melhores mudando

Minha mudança não vem com minha força

Então não venha me forçando a aceitar a força de quem não se esforça em deixar-me fraco

Sou perca sou ganho

Sou pedra sou vento

Sou casto e assanho

Sou veloz e lento

Tenho todo o meu tempo

Pra gastar o tempo

Naquilo que acho gastavel

Estou fazendo tempestade em copo d'água?

Claro que estou

Que te importa o tamanho do meu mundo

Ou se tenho eu poder de transformar uma tempestade num gole?

Não me comente

Não me Leia!

INSISTO! NÃO ME LEIA

Se leres, não Leia mais.

Condeno-Vos a passarem o resto dos seus dias com raiva

De ter uma poesia diante de si

E nao terem o poeta pra explicar sequer uma linha

Por que?

Ja abandonei tudo aos poucos

Mas tudo nunca foi meu?

O que abandono então?

Quero amizades velhas se inovando

Quero amizades novas com as falas das velhas

Quero comidas diferentes

Para sentir diferentes dores e barriga

Deixe-me com meus preconceitos pessoais

Tem preconceito contra meus preconceitos?

Sinta a fúria de minh'alma

Perambular sobre essas palavras

E que a erupção do meu eu

Seja evasiva

Seja efusiva

Seja imersiva

Seja imperativa tal qual mar que engole tudo, mas que é escravo das próprias ondas

Recuso meu psicólogo

Faltei no médico hoje

Minha doença é ser eu mesmo

E minha sentença é querer mudar sem poder

Então decido contaminar-te

Sim! A ti! Contaminar-te

Para de uma vez por todas perceberes

Que ninguém pode interromper

Aquilo que nunca se moveu

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 29/05/2019
Reeditado em 21/08/2019
Código do texto: T6659713
Classificação de conteúdo: seguro