A TÍTULO DE…GENTE

Careço de gente.

Não digo dessa gente

Alta e pequena

Que pelos rasos chãos

Apenas perpassa seus saltos

Tropeçando nas condutas.

Gente...

A quem havemos de curvar

Os joelhos ,

Baixar os olhos e emudecer as palavras

Para se obter o passaporte

De seguir como multidão invisível

E bem comportada.

Careço de gente,

Substancialmente gente.

Doutamente gente.

Só isso.

"Complexa carência simples"

muitos pensariam..

Portanto,

Não falo dessa gente

Que passa alheia

Às dores e aos léus

Tecendo infernos…projetados

E encantados de inatingíveis céus,

Em cujas metáforas das flores

Somente as desabrocham em intenções

Abortadas de sépalas

Que destoam das realidades.

Não careço

De farta gente transbordada de saberes

Gente vaidosa entediante,

De glórias enferrujadas,

Um dia a propósito de mudar

O que sequer as mudaria por dentro.

Gente que se acredita dona do tempo

e dos espaços.

Não, não careço dessa carência.

O meu carecer é ampliado das pequenezes

Agigantadas.

Coisa pequena mesmo, fora moda, fora de mundo.

Como um verso não rimado, que sem perspectiva fonética

Não teve para aonde se encaixar para fluir...ressoar.

Careço de gente grande, grande mesmo!

Gente alheia à sua própria grandeza!

Dessa gente em extinção homeopática

Em amorfas mostras avolumadas de gente

Carentes de vida,

Gente teimosa e feliz!

Cuja existência

Vai além da probabilidade de se existir.

Gente que transcende o improvável.

Gente que sobe às estrelas

E que, sem nunca roubá-las

(porque sabe que tal nunca lhes seria de Direito)

Pede licença,

Absorve suavemente da fração

Dissipada de sua luz altruísta

Só para iluminar a Terra de todos os breus.

Gente que olha nos olhos.

Gente que diz obrigado.

Gente que ondula os espaços

Com força massiva

Desde antes das geniais teorias confirmadas.

É dessa gente que careço.

Digo dessa gente hercúlea

Que na sua grandeza indecifrável

Ainda consegue ser pequena o suficiente

Para não ocupar espaços alienados.

Gente que não cava o vazio

Dos buracos negros dos espaços roubados.

Careço de gente graduada em sensatez.

gente que voa como passarinho...

Sem fazer barulho.

Gente que sempre soube tudo

Sem nunca ter aprendido nada.

Gente que estende suas mãos,

Gente que vai e fica sem ser chamada,

Gente que só ensina

Sem nunca precisar comprovar o que sempre está escrito.

Careço de gente assim,

Sem papéis passados,

Gente de todo domínio sem domínios,

De grande nobreza não consagrada.

Gente especializada em vida,

apenas isso.

Bem ao Lato Senso:

Gente só com diploma

de gente.