Existir sem dor
Não discuto, desisto,
a vida é muito veloz,
daqui a instantes, tudo passa...
O céu não será mais azul como agora
e o lado de dentro será mais frio que aqui fora...
Não troco palavras com as fendas,
as deixo armazenadas para o tempo depois...
Depois já é nova hora,
nova era e o que eu era há tão pouco tempo,
já não serei nada mais...
Eu não me arrependo de nada, não peço perdão pelo que vivi, tudo é tão preciso que preciso muito de outros dias que não sejam iguais a nada.
Quero o nada, gozar com ele a sorte de me sentir vivaz,
pleno de tantas incertezas.
Para que o certo se o mistério está no correr risco?
Tenho dúvidas, mas a elas dou simplesmente a chance de existir sem dor.
O que sou?
Não vale arriscar o passeio do barco pela certeza da inquietação.
Quero vida, sou vida, tenho muita vida a me esperar na costa da esquina.
Não discuto, resolva...
Amanhã quando o galo cantar poderei estar longe, bem longe de mim...
Gosto do risco da travessia e em nada me comove o tédio! Ontem, eu ainda fazia figa, mordia a língua e, de leve, sentia prazer em olhar para trás...
Hoje, já não perco festa, estendo a roupa por aí e me deixo levar por acaso...
Por acaso a gente se viu ontem?
Não tenho lembrança, apenas o vazio da cama e da minha vida.
Estou tão cheio da falta de maturidade que me necessito ríspido, compacto, lobo de mim por necessidade...
Mas não discuto,
não me arrependo...
A fenda do "não foi por mal", nunca atingiu meu algo...
Não discuto
Curto o instantâneo...
O solúvel, o acaso.
Agora necessito queimar esse cigarro
Por enquanto
Não discuto, desisto,
A vida não é táxi
Marcus Vinicius