meu ultimo poema
foi datilografado a cem anos atras,
ao molhar o pincel atestei minh' doença,
cravado na pele, descanso em paz,
a partir do intuito criam-se temas
uma pilha de folhas ao meu lado se faz,
ver o muito sempre como o pouco,
porcos empilham pilhas d' corpos,
jogados na vala, a vida se desfaz,
fazem pelo dinheiro, sexo e poder,
apontam-me: maconheiro! insensato,
só por não querer ser o q' querem,
fazer parte do matar ou morrer,
com a ponta do lapis
dou descarga
nessa insensatez,
como apronto por vezes,
bateria falha
mas esta sempre em carga,
nunca soube amar
mas aprecio o prazer,
trazem-nos esperança desfarçada
como angulha dentro de um palheiro,
vão-se todos: a caça, se vistos de fora
assemelham-se a animais num puteiro,
carregando um arco e flecha até
quando vais ao banheiro,
soltos na selva
com medo da sombra,
esperando quem salve
comendo das sobras,
outros com ouro enterrado
pouco se sabe sobre o errado,
comprei uma paçoca
e vendi o carro,
um dia ...
vão me ver de carroça
com uma deusa do lado.