Divagando em hora vaga
Vasculhando os alfarrábios,
Não vi nenhum desabono,
Desaforo ou gabolice
Nem mesmo um disse-me-disse
Que justifique um lamento/
Se palavrões eu não uso,
De xingamentos me afasto
E até de certos entreveros
Eu tomo muito cuidado,
Juro que não entendo,
Mas, como regra, me calo;
Minto, não calo tanto
Pois sendo bem humorado
e não vendo ser defeito
A minha sutil ironia
Eu tiro logo um proveito
E como diriam os antigos,
Uso da picardia
Mantendo o mais fino trato
Que transformo em poesia
E, assim, vou indo em frente,
Nem covarde, nem valente
Nem omisso ou falastrão
Deixo aqui o meu abraço
Sem nenhum constrangimento
Pois, se tenho algum talento,
Esse é, olhar de frente,
Sorrir e ter gentileza
Com os iguais e os diferentes.