Belém
Cidade de selva e seiva sanguínea,
Sangue e selva do beiço amazônico;
Sangue salgado descente de lábios mornos que desembocam no mar.
Fantasma de velho numa canoa que vira,
e a canoa corre o rio. O velho nada e
Nada. Atravessa o trópico a braçadas.
A cidade tem lábios secos e pelugem farta.
Fantasma que se perdeu na correnteza.
Um peixe-poeta que nada e nada e nada.
Nulidade das guelras e eco de poema: distante e abafado. Seiva gelada, pegajosa.
Abre-se o peixe. E o peixe, já morto, canta a cadência poética visceral do Ver-o-Peso.