Meia-Noite
Embriago-me com o sangue da terra
Nessa meia-noite com as armas em riste
Projetando sombras fantasmagóricas
Pelos vãos da cortina velha e rasgada
Todos os gritos vãos me cansaram
Calo-me então e gargalho pelos cantos
Sem temer os olhos que me vigiam
Sem colher os narcisos murchos na varanda
Resta-me um derradeiro suspiro ainda
Nessa meia-noite ressonante e aguda
De bizarros murmúrios do lado de fora
Então me afogo em mais um gole
Mas a garrafa me diz ao pé do ouvido
Somos apenas nós nessa meia-noite
Nem as estrelas vieram compartilhar
Dessa penumbra que nos envolve
De pitoresco somente o olhar no espelho
Em meio à barba desfeita e mal aparada
Onde sei que ainda existe uma criança
Que caminha solitária em direção ao infinito