FIQUEI A VER NAVIOS...

Se não tem Porto, os vejo no aeroporto...

Se não tem mar, num olhar, os contemplo

A singrar as águas do pensamento...

Aquele negreiro, infame, que de lá me trouxe

À terra estranha, vendido por aqui, fiquei...

Até hoje estou... Fiquei a ver navios...

Aquele de pesca de golfinhos, focas e baleias

Até sereias caem na sua rede, todo dia

Barrar, tentei, nada consegui, fiquei... a ver navios...

Aquele quebra-gelo, chamei pra quebrar o gelo entre as nações

Não encontrou o gelo pra quebrar, só calor no mar

Que não é humano, este calor... Estou a ver navios...

O petroleiro sujo, lambão dos mares

Devia andar preso, dentro de outro navio, bem seguro

Ou usar fraudas GG noturnas... Fiquei a ver navio... No escuro...

Mas de todos estes monstros que estou sempre a ver

O mais repugnante é aquele de Guerra, que não serve à Paz

Adaptado para matar, fico a vê-lo, sempre, em alto-mar...

Fico a ver navios, ao terminar...

Sobradinho-DF, 23/9/07 - abello