Garbo e eu e eu de novo [como sempre]

Ao ler sobre a Garbo

Sobre o que falavam dela

Sobre o que ela falava de si

É como se estivesse lendo os meus próprios pensamentos

Sua sofisticação simplória

Seu medo de gente

Sua sensibilidade

Seu olhar tão direto, honesto ao mundo

Ela, nórdica, tão melancólica quanto eu

Frio cristal de gelo

Eu, pinta de toureiro

Um andrógino mais sutil

Que sobrevive pela poesia

Sua ''alma'', tão artística

Igual à ''minha''

Profunda, frívola,

infantil

Pois se querem

Me tirar os olhos que eles não têm

Desprezar o céu sereno

E as luzes do entardecer

E o ritmo verdadeiro do tempo

Que eles não querem viver

E viver apressado pelo dinheiro

E pelos relógios de pulso

Que eles preferem ser

Seus corações batem a cada segundo

Mas são máquinas de crer

Datilografam com seus celulares num culto

Enquanto a vela derreter

Se querem que eu seja normal

E não são

O suficiente para saber

Que o normal não é o tipo ideal de gente

Nem de bicho

A religião verdadeira que eles não querem ter

Se possível queimarem todos os seus/os meus escritos

Não mais que uns centímetros volumosos de versos