Balzaquiana

Há uma moita no meio do concreto da cidade...

Apesar dos descaminhos e dos desencontros,

a morena-índia reencontra sua cara-metade.

Acesos de cólera e de espasmo carnais,

suas naturezas animais se comunicam

em conjugação de sentimentos,

espíritos e desejos impetuosos.

Os olhos da cabocla piscam como vaga-lumes excitados,

sua boca procura-lhe as partes com a sede dos desertos,

enquanto a visão de suas ancas causa-lhe um tremor febril.

As lingeries, que nunca se repetem,

realçam toda a protuberância de seu sexo salientíssimo.

O quarto exala a luxúria de amantes insaciáveis,

ao mesmo tempo que os acolhe numa paz aconchegante de ternura.

Seu corpo ferve de desejo carnal, passionalmente.

Seu cheiro de ervas, de natureza, de fêmea, de sexo,

o manto negro de seus cabelos descortinando seus seios pungentes,

o vestido preto, os seios soltos,

a sandália alta, amarrada às pernas – que pernas! -,

a risada escancarada como se a vida se consumasse assim,

a voz grave, rouca, rocinante, excitante...

tudo o excita como a um animal no cio.

Há apenas a ausência do grito e dos apelos lascivos,

entretanto o toque, a saliva, a língua, o odor,

tudo é um dar-se ilimitado, infinito.

A índia passeia nua pela casa, como se fora a tribo primal.

Bolinam-se como crianças com brinquedo novo.

Amam-se no chão do terraço,

na mesa da cozinha, incansavelmente.

O clímax pleno é um desfalecer mútuo.

Adormeço com teu beijo molhado

e acordo com a sinfonia dos pássaros no quintal.

NoaNF
Enviado por NoaNF em 21/05/2019
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