Metade de um cigarro

Anestesiados

o peito parado e as respirações curtas

demais

impediam que eu me soltasse

desprendesse

desamarrasse

eu entrei naquela brecha

do espaço-tempo

que tudo se perde mas tudo é nada

tudo que se sabe não é mais

tudo que existe

não existe mais

não tem chão, mão,

não tem nem quem fique são,

quem se sustente, ou se aguente

eu virei água e virei terra

e eu era tão ar,

tentando mudar, eu só permanecia igual

agora somos um só

a água e eu, meus inimigos e eu,

tudo que eu sinto e que eu vivo,

isso é descoberta

é paraíso

se perder é saber quem se é

e eu não poderia

agradecer mais por em cada esquina e cada luta

enxergar a luz do fim do túnel

e no fim e no começo de cada eu

me perder nos meios dos cigarros

me encontrar no meio da minha cama

me revirar do avesso e trocar de roupa

e trocar de alma, por que não?

se eu quiser,

eu sou tudo que eu quiser,

e não há quem me diga que não

porque aqui

no meio do tempo

no meio do espaço

no meio de mim e no meio de tudo

eu sou meu único tudo

e eu sou meu único nada.

obrigada.

obs. eu só escrevi, não reli porque aqui reside minha alma. foi assim que ela escolheu se apresentar hoje.

Amelly Lopes
Enviado por Amelly Lopes em 12/05/2019
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