Antes do amanhã
No vislumbre,
Vi-me turbulento
Enquanto permaneci
Encolhendo minúsculo
Na visível certeza
De um acolhedor medo
Que me protege de mim.
Os calafrios alarmavam
O corpo que se chocava
Entre exaustão e conforto,
Trazendo a inconsciência
Que por agora decidia
O rumo dos pensamentos.
Enquanto reencontrava o chão,
Retornava à realidade
A lucidez afligida
De cicatrizes permanentes,
Carregava consigo
A negação de não poder
Encontrar suas respostas
Mesmo bem longe daqui.
Caiu sobre mim a empatia
De uma cinzenta e triste
Natureza em prantos.
Já tivera a beleza
Que um dia tive,
Já fora desejada
Como um dia fui,
Já inspirara poesia
Que um dia escrevi
Como maneira de relembrar
O que já não posso segurar.
Sem o velho abrigo
Parar correr e se esconder
Quando o perigo vier
Junto a esses prazeres
Que corrompem e viciam
O instinto que deturpa
Sua própria sobrevivência.
Uma vez poeta,
Asas abertas a voar
Num céu de palavras,
Mergulhando em cada
Metáfora que perdera
O senso de fantasia
Destes versos.
Desamparado andando
Por essas ruas escuras
De postes apagados,
Ingenuidade marca
Sua dominância sobre
Os lapsos de decisão,
Pois constante é.
Louco o suficiente
Para continuar preso
Nos limites que traçaram
A imaginária sanidade.
Vazio ao ponto de
Recorrer aos fingimentos
Como maneira de um novo
E permanente agir.
Caminhando em silêncio,
À mercê incerta de que
Olhares ameaçadores
Veem cada passo à espera
De um tropeço, de uma queda,
De uma brecha de fragilidade.
Quieto ao ritmo
Da estática em que
Encontram-se os
Movimentos calculados
Do mundo que por agora
Existe em cautela.
Mais uma vez,
Aceno a adeus
E peço perdão
Por tudo o que
Permanecerá incompleto
Em um futuro passado
Que sempre será a favorita
Memória entre as ruínas.
Fecho meus olhos,
Aqueço-me do frio
E do tormento que congela.
Adormecem as preocupações,
Dou uma última espiada
Nos amanhãs que virão
Entre as nuances,
E assim então,
Eu espero.