CAMINHO DAS ÁGUAS
Para Helton: O Forasteiro que me guia nas noites tempestuosas.
Para Karol: Que me ensinou o tráfego das águas.
Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar (Sophia de Melo).
Nascer sempre.
Constante risco.
Palavras ausentes
Que se tornam precipício.
Se no mar tem rio
Também tem cachoeira e fonte
Vai para o além
Da linha do horizonte.
Dentro das águas me lanço.
Dentro das águas renasço.
Em cada momento me transfiguro
Metamorfoseando-me em substrato.
Das cachoeiras vejo meu reflexo
Em espelhos de guaraçapés.
Da Grande Mãe das águas doces
Que me faz um cocar de lírios dourados
A chuva desce e lava
Ouço o som dos trovões
Os raios se multiplicam e a
Espada é posta em minhas mãos.
O mar me chama
A Senhora me espera.
Abre os braços e me acolhe.
E joga o colar de contas
que no meu pescoço se mistura com as artérias.
Dentro do mar caminho, sem medo e com calma.
Agora, aqui dentro, transformo-me em um ser das águas.
E, quem sabe nunca mais eu volte
Para a terra que deixei
Pois, naquela terra havia a morte
E nas águas me renovei.