MARCAS

"...Foi preciso

esta madrugada fria,

abraçada pelo silêncio,

pra me fazer sentir

o quanto é longe a saudade...

Ignorava que pelas esquinas

adormecidas da vida,

caminho nenhum

traria de volta

o que eu vivi...

Estranhamente

a fala misteriosa cala,

emudecendo o som

das palavras mortas,

e eu já não te ouço

nem nos meus sonhos...

Apaga-se melancolicamente

a tua imagem e até a cor

"camaleante" dos teus olhos

não me deixa dúvidas,

pois há muito não os vejo...

Quantas histórias

meus caminhos viveram!

Quantas personagens

meu peito abrigou!

Mas a cicatriz mais funda

quem deixou foi você...

Coberta apenas

por uma membrana fina

que se rompe

ao som da música que

invade o meu quarto

e machuca os meus sentidos,

ao mesmo tempo que desperta

a saudade longinqüa...

Recolhem-se as lembranças...

Trancafiam-se

no recôndito solitário

do meu corpo

e esquecem-se lá dentro...

Enfurecem-se

quando palpita o que parecia

estar morto,

e este gesto aflito,

transparece na batida

do meu coração;

na dor da minha

saudade distante;

na remota esperança

de te encontrar por acaso,

e por acaso

me ver como andarilha

dentro dos teus pensamentos,

buscando no mundo grande

e na grande alma,

a essência translúcida

daquilo que fomos

juntos um dia..."