O Parque sangra
O Parque chora, sangra
pelos rios e nascentes,
pelos homens dementes,
na delicada caliandra.
Santa Maria, rogai por nós,
- as suas águas represadas,
de vermelho irisadas -
não nos deixeis a sós !
Contaminada a água, o verde
vertendo lágrimas em gotas,
a cortar morros em grotas,
faltando aos que tem sede.
Violenta queimada
calcina o barro rosso;
o capim dobra sequioso
suplicando a chuveirada.
Desarvorados animais
com destino incerto,
vagam pelo deserto
que cresce mais e mais.
Sofre a fauna alada,
órfã de árvores-mães;
lhe falta nas manhães
o frescor da invernada.
A mata vai minguando
à mercê da lua em pranto,
que outrora era o encanto
da seiva no fuste brando.
O meu grito já é rouco,
para essa horda de loucos,
cegos, de ouvidos moucos,
não basta, ainda é pouco.
Breve o sol queimará com fogo,
consumindo os corpos insanos
daqueles seres humanos
que da vida fizeram um jogo.
Brasília, 28 de outubro de 2005
Réquiem de um Parque sofrido, caminhando para a extinção