Desvairada três

Alguma parte de mim me afoga

Penso em você

Penso em você

Penso em você

Escrevo para redenção suma do caos

Perdoar-me pelos sentires sem pronuncia e sem controle

Atirar ao chão e desfazer na ausência

Venha menino Carlos. Beija hoje que é domingo.

Amanhã sabes o que será.

A mesma prensa codificando a forma plumbea de pássaro azul celeste com nuvens que cansaram de voar e viraram pedra

Não é raiva.

A lembrança do obsoleto layout emerge em obsoleta consumação final de versos emaranhados irasciveis intrincados e ardentes como a ferida do meu dedo do meio da mão

A mão explode a poesia concreta

O concreto pinta de cinza as cores caladas e esquecidas

Quem somos?

Qual o propósito disso tudo?

A arte não tem propósito.

A vida não tem propósito.

A arte é o propósito

A vida é o propósito

Continua deitada navegando o chão de madeira do meu apartamento que nada tem de meu

Não entendo nada.

Avergonho-me em dizer que não tenho vergonha alguma em dizer que não entendo nada e sofro as dores universais do ego

(Como fala quando você picota inteiro?

Ela me perguntou naquele banco de concreto da Armênia.

É desmanchar e desalmar o corpo inventado.

Lembrei. É esquartejar)

Ela deitou pra dormir e me avisou que dormiria e dormiram com ela minhas palavras todas.

Adormeceu a fúria dos dedos irrefreáveis.

Carlos. Olha o meu dedo

Você vê um passarinho?

O amor é um passarinho que voa quando bem quiser.

Não lembro quem disse que disse.

Mas lembro que você só encherga quando abre bem os dedos e ele está ali no espaço entre os dedos.

A arte, Carlos, é um passarinho na rota de fuga.

Uma estrela quando morre não vira Lídia. Revira e vira um buraco negro sem fantasia. Mas agora ele foi fotografado por 16 cameras em 16 países que só existem porque existe a internet.

E a menina é nova.

A bossa de cânhamo é nova. É mágica e milagrosa.

Você está acima de mim e escrevo porque qualquer poeta que escreve busca sentar sobre um divã do sublime com licença para calar o ego que grita.

Pensei em você.

E estou agora deitada sob o céu vermelho. Nele repousam os versos perdidos os buracos negros e a voz do menino que ouvi na semana passada

(Aqui recordo-me do seu Valney dizendo que eu não voltaria para falar com ele.

Eu disse que voltaria.

Mas acho que talvez

Realmente

Não voltarei)

E os pensamentos arborizados e descarrilhados

Somos nós que não os entendemos.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 06/05/2019
Reeditado em 06/05/2019
Código do texto: T6640053
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.