BRINCANTOS
Não quero brincar sozinho
Não quero brinquedo caro
Eu quero um quintal claro
Do lado do meu vizinho
Não quero ser um mesquinho
Que esconde o brinquedo
pois do meu lado esquerdo
Tem pátio inocente
Que brinca pequena gente
No balanço do folguedo.
Eu quero a brisa fria
No amarelo do trigo
Também quero ser amigo
Da alva meiga do dia
Quero a grama macia
Para jogar futebol
Também quero ter o sol
Sobre minha cumieira
Ardendo por brincadeira
Na calçada do arrebol.
Não quero que anoiteça
Com um dia sem recreio
Quero brincar com um veio
Aonde o bem floresça
Não desejo que padeça
Minhas lendas infantis
Quero meu final feliz
Em aboios encantados
Com versos improvisados
Por um coro de sacis.
Eu quero um chão riscado
De brincadeiras sadias
Quero boas companhias
Inocentes do meu lado
Um terreiro alfombrado
Do tamanho do espaço
Eu quero fazer um laço
De amor e de carinho
Num infinito caminho
Pra que eu corra descalço.
Eu quero o meu brinquedo
Feito de um girasol
Que sirva como um farol
Por cima do arvoredo
Eu quero brincar sem medo
Nos prados verdes a esmo
Quero um fraterno desmo
No horizonte vermelho
Me fingindo de espelho
Brincando de ver eu mesmo.
Meu brinquedo é um circo
Armado no pensamento
Com lonas feitas de vento
Amarradas com um risco
As margens do São Francisco
Manobro as alavancas
Então tufos de elancas
Colorem todos os espaços
Com magotes de palhaços
Amontados em carrancas.
Brinco com pedra e lenho
Como se fosse artesão
Que com os fios do cordão
Faz a cana do engenho
Brincando assim eu tenho
A taquara e o bambu
A calunga do mulungu
Rainha da minha dança
Com dois caboclos de lança
Batendo maracatu.
Brinco com a arraia
Que tem ferrão amolado
O meu brincar é salgado
Feito da onda da praia
Que na areia desmaia
Espuma embranquecida
A lua assim comovida
Com seu clarão fotografa
O vento jogar tarrafa
No mar imenso da vida.
Brincando vou a demanda
Em nuvens esfumaçadas
Onde almas de mãos dadas
Fazem rodas de ciranda
Quem tudo isso comanda
É um menino trigueiro
Que brincou no meu terreiro
Puxando cobra de guizo
Fingindo um paraíso
De um jesus maloqueiro.
Quero brincar com o mundo
Visível e invisível
No meu mundo não tem nível
Não tem raso nem profundo
Brinco a cada segundo
Como se o mundo fosse
Uma ilusão que trouxe
Anjos feitos de sabão
Para me dá de coração
Um céu de algodão doce.