AGRADEÇA AO PÓ

Obrigado, pó que me circunda

Pó que me antecede e irá me preceder

Obrigado por dar-me visão da transitoriedade das coisas

Obrigado, pó dos meus ancestrais

Pó das Ilusões que desembarcaram no cais da maturidade

Pó dos fantasmas que saíram sorrateiramente pela soleira da porta, dando-me adeus por não mais lhes dar crença

Obrigado, pó das estrelas que desisti de alcançar

Obrigado, pó que preencheu as brechas sem luz que se acumulam recônditas na minha alma

Pó das conversas não-terminadas...

Pó rasteiro, miúdo e inconsequente

Pó das piores intenções e das insígnias de calamidade

Pó que suja, mancha e escorre...

Agradeço a ti pela parca instrução e pela glória vã

Sou-lhe grato pelos desvarios e lembranças cuja origem e destino comungam da tua forma totalmente

Pois sou teu em medida e substância

Por um ganho justo e também pelo uso correto...

Sei que em ti vou repousar e ganharei significado

Ambos indissociáveis na maré eterna dos tempos.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 03/05/2019
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