A Próxima Vítima

Engasgado com a própria dor/

Na saliva ensanguentada da boca/

Me vejo no canto escuro dessa selva/

A perguntar pro nada/

Qual criança nesse país não é vítima de abuso sexual/

Quando uma só é vitimada/

Sem encontrar voz nas respostas da impunidade patrocinada pelo Estado/

Volto-me e me pergunto na praça abandonada/

Qual mulher não é vítima de violência doméstica/

Quando uma só é exposta a essa tortura histórica/

Olho ao redor e vejo, que se falam em liberdade/

Em respeito e direitos e nem se pode, nas ruas ser negro de verdade/

Com um medo esviscerado na carne da alma/

Vejo que não é fácil viver num país cujas leis/

São vítimas fatais da hipocrisia/

Porém, talvez bem pior, que a sociedade omissa/

A ignorância como premissa de políticos corruptos/

Para indiretamente matar e se manter no poder/

Às vezes penso, que exigir respeito/

Não é prerrogativa pra se ter o desejado efeito/

Pois que a luz dos nossos erros/

Começa no culto de nossas ambições/

Na falta de maturidade e na escolha de nossas verdades/

Por hoje, só damos vida ao corpo/

Quando qualquer das violências ou impunidades/

Encontram os nossos endereços na cidade/