da percepção das fragilidades

Da percepção das fragilidades

Sei que não sou o mesmo

De há trinta anos...

Ou talvez cinquenta!

Mas

ainda posso escrever poemas

descrevendo isso

das venturas e aventuras

de uma vida...

a minha vida!

Agora posso sorrir aos netos,

Penar por eles

Como antes pelos filhos...

Sei que não sou o mesmo

Mas

Ao mesmo tempo o sendo...

Com meus sonhos acalentados

De uma vez vividos...

Curtindo minhas angústias

De ter feito no passado

Os erros não concebidos...

Agora, mais fragilizado,

Sustentado

Por essa coleção de comprimidos

E pelo pejo de ser visto idoso

Nas filas dos supermercados

E bancos e museus...

Mas usufruindo disso.

Ainda sou o mesmo nas vontades

De viver-me!

Sei que não sou o mesmo

Mesmo o sendo...

Vivo com menos dúvidas

E menos certezas...

Apenas me sei

Um senhor cansado

E tudo que tento

Afeta as costas, a mente,

O equilíbrio de estar em pé,

Mesmo sentado.

Nisso, bem trabalhado,

Está a vida,

Mas o corpo todo sofre

A ação das investidas do tempo

Em minhas entranhas.

Retenho sentimentos

Mas não retenho as vontades

Orgânicas de meus órgãos,

Talvez revoltados

Pela subserviência de anos

A fio...

Sei que não sou o mesmo,

Mas estou aqui,

Respirando esse ar

Cada vez mais irrespirável...

Sentindo saudade ou remorso

Pela presença ou ausência

De certas pessoas

Do meu passado.

sergiodonadio

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 01/05/2019
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