Flor do Lodo
Criança brincando na chuva da rua/
Sob as bicas de água das telhas/
Nas poças de lama da periferia do Barreiro/
Na flor da idade, ela ainda rir/
Corre atrás da bola, sem se perceber da hora/
Num futuro incerto/
Desassistido pela casa e pelos governos/
Ela, tão pura e bela, puxa e empurra seu amigo e sua amiga de infância/
Enquanto da janela observo, voo na cortina de chuva envelhecendo o tempo/
Passa vento, entre atropelos e farpas, a duras penas ela, na formosura da idade/
Fica a mercê dos cantos escuros/
Deserdada de direitos e respeito/
Ela seguem sem freios, avançando semáforos/
Já trôpego e sem enxergar direito/
Vejo aquela, que era criança ser vitimada/
Sob a curiosidade da idade com entorpecentes da moda/
Ela vai conhecendo o bem e o mal/
Depois das drogas, seu corpo exposto na feira da vida/
Entre doenças e feridas/
Sob um belo dia de sol, ela se achega a minha janela/
Me deseja um bom dia e para minha surpresa/
Me apresenta seu filho de colo/
Cujo pai morreu em confronto com a polícia/
Pergunto por seus amigos de infância/
Ela ri, com traços saudosos, como se a miséria e a dor fosse normal/
Diz-me assim…Ah, o maca foi assaltar ao ônibus e lá tinha um polícia, que o matou/
A neguinha, está por ai pelo centro da cidade vagando e cheirando cola/
E você, quantos anos tem/
No final de janeiro completo dezesseis/