Descalço
Olho para esse bloco de notas do celular
Enquanto a viagem de trem torna-se anestesiante
E é como se as palavras e os versos saíssem dos trilhos
E tropeçassem nessa pedra de melancolia
Em que as estrofes morreram
Junto com todas as promessas
e fotos rasgadas.
Às vezes eu acho que eu engoli a pedra
E a tristeza corroeu a minha laringe
E abriu caminho na alma inquieta
E na floresta do medo e da solidão
Eu sei que nem todos os dias são dias de sol
E a escuridão às vezes se faz necessária
Mas preciso vomitar a pedra
Tossir os meus anseios
Desengasgar o cálice que nunca tomei
Os palavrões e as frustrações
Preciso de um tapa na cara
Um banho gelado
E um amor idealizado
Descalço e despido
Eu fui pra muito distante de mim
É um longo caminho de volta.