A morte do Outono
Fecharam-se as cortinas do tempo
Tudo agora é uma duvidosa harmonia
Onde, silenciosamente, o vento do outono
Espalha suas folhagens sobre a terra
O inverno, porém, me surpreendeu
Feito uma torrente de mentiras
Eu, que sequer me mantinha vivo
As minhas pálpebras, já mortas
Tinha alma infantil
Minhas frágeis mãos
Não sabiam o que se passava
Minhas frágeis mãos
Sob as doces folhagens do outono
Assistiam, assustadas
Minha alma partida e o coração
Na minha mão
Não ansiava por nada
Não, não
Disse eu ao meu coração
Com o vasto horizonte a meus pés
A rígida manhã em meus ombros
O atlântico ensangüentado
Tudo isso corroiu
Tudo atraiu, a minha maravilhosa
Ruína
O inverno rompeu as folhagens da manhã
Tal titã, Com seus braços de Ciclope
E seus olhos de vidro a me espreitar
Na praia da cidade perdida
Tudo aconteceu tão derrepente
Minha alegria tinha o calor dourado
De abril, meus pés em minha cabeça
Cabelo jogado às traças
Sentei-me no passado, na árida planície
A contemplar a ruína de meu reino
Estava ela com seus cabelos lisos
O riso partido
O coração consumado pela solidão
Prometeu ela, um recomeço
Depois de tudo
Disse que o passado nada agora importava
E suas frias mãos em meu peito sangrava,
a tempestade do convés arrastou
A minha destinação, sentei sob o horizonte
A recordar da morte de meu reino
Debaixo de um torrencial
Lá na velha cidade, na velha Atlântica
Os meus dedos assim me corroeram
Meu amigo, o que será de nós?
Que serei eu, já depois
Que fui embora
Ao fim da geada,
Ao fim dos tempos?
Depois do inverno
eu clamei então aos céus
Ó meu senhor, Tu que aí estais
A chuva na janela grita e me arrebata
Para a velha cidade então eu vim
à espera
Ó labirinto, onde nunca esperei
Me encontrar
Com tais fragmentos assinei minha sentença
Diante dos terríveis dias
De nosso triste relento
Ó sombra amiga
A me espreitar na escuridão
Os ramos da harmonia se romperam
Lá, no meu antigo lar, onde nunca soube
O que esperar
Sentei aos choros diante do céu
Os pássaros partiram, as areias me engoliram
Por inteiro
Ó céu azul
Ó andorinha
Foi com este fragmento que eu edifiquei
A minha ruína