UNIPLURAL

Tento entender: eu sou o plural de mim mesmo. Bastardos

e avariados. As sobras. A xepa múltipla. Sim, eu sou vários.

Tem vez justo de araque. Sempre diferente a cada dilema.

Feito nas encostas do abismo. O cão farejador de poemas

inexistentes, pois neste galope invisível de um futuro rápido,

serão só passados. E de outras formas. E de outros fardos.

Deito na colcha de retalhos, entre os seus painéis profundos.

Sim, eu sou muitos. Submersos nos calendários taciturnos.

Ouço o ruído excruciante do relógio (no sacrilégio das horas

marcadas do ritmo mudo da palavra espacial que não desce

ao nanquim roxo cibernético do poeta): tic, tac e toc na porta,

sim, eu sou inúmeros. Trancados sem equações de acesso.

Dentro das hordas cotidianas, paro na coxia de um instante.

Atiro o pó na cara. Decoro as mentiras. E não sigo adiante...