DIGRESSÕES

não há espetáculo mais emocionante que a vida

celebrando a ex-vida.

na face rosa do louvor, o haicai vibra

o soneto enaltece

o canto marcial estala

e celebra a ode

e esta, consternada, rima com o réquiem

...

a rosa, essa morre aos poucos

contrita, entredentes

entre dedos distraídos

entre deuses, semideuses

e poetas

ressentidos.

rosas, subtraídas do chão

cultivadas no céu das rosas, no céu

etéreo das rosas

adubadas com as lágrimas ácidas

da expiação ritual

meu deus, quanta poesia há

na bruma turva

que sopra esse vento ardido nos rostos

de postura cinematográfica!

e as folhas mortas em nossos pés

de pêsames.

tem tanta adoração

nesse louvor compungido

nos gritos de guerra

nos cantos xamânicos

nas vozes alteradas

e embargadas pelos tapinhas às costas

que quase acredito

na sinceridade de meu choro

chove lá fora. observo.

os pingos beijam os parabrisas, depois escorrem,

viram outra coisa mole (morrem?).

continuo a contenda interior: juro que

entendo mas não compreendo

e nada melhor explica

a emoção dos epitáfios

que celebram a morte e esse seu amor

pela vida que a abastece