Anacronismo
Escopo de uma Teoria da Fecundidade
Ou é sonho do poeta e foi-se o tempo?
De alguma poesia e sua relatividade
Se imaginar pólen soprado ao vento
O desencontro marcado
Pontual sem hora para chegar
O agora foi cercado
A esperança não mora neste lugar
No passado seríamos o país do futuro
Queria conhecer este profeta
Mostrar que demos com a cara no muro
Por conta desta gente “esperta”
Querem os velhos tempos de volta
Anacronismo das ideias ultrapassadas
Espécie de revanche, que tem militares como escolta
A vitória da hipocrisia sendo premiada
Um “sem hora”, senhor medo
Um “Agora Inês é morta”
Promessa de oportunidade de emprego
Um “Te fecharam as portas”
Mas o fenômeno não é restrito à sociedade
Para o individual ele também se põe à mesa
Você já deve ter convivido com esta verdade
Às vezes parece até uma lei da natureza
Um regime para começar na segunda
Salvo conduto para excessos de final de semana
E aquela promessa moribunda
Só se for em outra, não me engana
E a coragem para se declarar para a menina
Que chegou quando a viu de mãos dadas com outro
Agora aguarda a vez, a coragem para a estricnina
Sem a sua amada viver é sem graça, sobreviver é pouco
Com a idade vem a experiência
Mas talvez ele já não se sinta capaz
E nem para conselhos lhe sirva a sapiência
A juventude sempre pensa saber o que faz
E aquele desacordo planejado da timidez
Que brinca de escapar do olhar
Torcendo para que chegue a vez
De, no cruzamento deles, tudo se revelar
De um coração febril, a disritmia
Vontade descompassada com o poder
Sem o calor do seu corpo, hipotermia
Distância, um osso duro de roer
Ele só esperava o momento certo
Mestre na arte de postergar
E quando o momento estava por perto
Arranjava uma desculpa para se afastar
E o relógio lhe serve de aviso
Do quanto você está atrasado
Aquela sobra de tempo que era preciso
Para o atraso ser mais folgado
Pelo menos num poema a sincronia
Os versos e suas múltiplas possibilidades
Não necessita de lugar, hora ou dia
Para uma rima encontrar sua oportunidade