VESTÍGIOS

Há, sim, uma arrogância arrastada em mim.

Não domo esse vulcão vivo que mora aqui,

quando irrompe, na vértebra fina da espinha,

sob o roxo da meia-noite ou do bafo do meio-dia.

Um dia acreditei que pudesse escrever sobre tudo.

E que não dependia da realidade doída desse mundo,

pois o verso é uma construção racional de engenharia.

Se o poema é incapaz de ser, por que insistir na poesia?

Mas quanta pretensão a do poeta! É um otário egoísta?

E nada termina: a argila que finda é a mesma que inicia.