UM POUCO DE LOUCURA

Rio, 31/07/2000.

Tem gente que não sabe nada

E vive cheio de saber de vento

E vento há na sua cabeça oca

E nada numa bacia vazia e furada

E tem o bolso rasgado e sujo

E há gente suja de mãos limpas

E impar é o sol que nasce

E nasce sem luz e mente a boca

E onde andam os lábios matreiros

Nunca vi batatas nas mangueiras

E rimas nas mentes em loucuras

E tempo gasto no chão grosso

E dinheiro nascer no arvoredo

E riso haver nos olhos que choram

E alegria viver dentro da tristeza

E horas perdidas no oceano profundo

E busca no fundamento imaginário

E o fundo das palavras solidárias

E queria ouvir da música os espaços

E o som de um violão sem cordas

E o eco do tambor sem couro

E ter a batuta sem maestro

E ouvir a orquestra sem som

E quem testa, quebra a cabeça

E as nozes são quebradas no castelo

E o amarelo das folhas que caem

E o verde da fome na bolsa de alguém

E o trem que apita na curva

E a linha que faz virar o trem

E um banco solitário no canto

E um cântaro com água na mesa

E a mesa com farelos de pão

E a fome que grita em certo tempo

E vomita asneira o rádio e a TV

E quem te vê pasma de assombro

E o ombro feito para chorar

E há lágrimas de crocodilo

E jacaré que chora ao comer

E há hora das besteiras ditas

E porcarias ditas a toda hora

E queria somente ouvir o intervalo

E o som do clique do desligar

E comprar uma casa na lua

E escrever nas paredes do vento

E ter um sorriso sem graça

E ver na cor transparente da saudade

O sumo da água a correr pelas mãos

E um tostão dado por nada

E por nada se ganha um empurrão

E como vale o do lar furado

E o que sai do furo feito na terra

E o ouro preto está em alta

E só se vive de sonhos acordados

E os pesadelos das pedras dormentes

E os dormentes sob os trilhos

E a linha está mais para sorte

E o investimento foi desviado

E saiu o trem sem destino

E para fazer chorar os olhos

E ando a procura do nada

E nada encontro na loucura

E a razão está dentro da insensatez

E das palavras ditas na televisão

E a cegueira só fala o birmanês

E um número elevado a certa potência

E o quadrado do triângulo equilátero

E o espaço entre o certo e o errado

E o errado tomado como certo

E gente que erra o grande alvo

E complica a mais simples estrutura

E estou cansado deste louco escrever

E se ando assim todo desvairado

E na mente passei por um escorregão

Em algumas coisas destas há razão.