DE TÃO BONITA, DEIXA SAUDADES
A vida é bonita, como é um amanhecer com cheiro de outono.
Como é a aurora,
Daquela que a gente coloca meio corpo da janela pra fora,
Para tudo conseguir enxergar.
Mas a danada da vida,
De tão bonita,
Deixa saudades em tudo que é canto.
Saudade de uns e de outros,
Dos perfumes, do banco da praça nas noites de domingo.
Dos passeios com amigos,
Das margens verdes dos rios.
Dos sorrisos e das gargalhadas,
Bailinhos e cuba-libre.
Dos acordes das guitarras,
A marmelada três em um
Na madrugada.
A vida é bonita, mas quantas saudades ela traz.
Aquele vale arborizado,
A cantiga seresteira,
O par de olhos ao longe.
De tão linda a vida,
Sinto saudade de tudo,
Até do que não vivi e das gentes todas.
Da família espalhada,
Dos amigos hoje distantes,
Do quintal cheio de rosas.
Da janela, água da enxurrada
E os pés descalços nela.
Saudade do mel daquele favo encontrado,
Do pássaro rondando e das taças plenas de rosé.
Das pedrinhas jogadas,
Da canção de ninar.
De tão bonita a vida,
A saudade é grande
E me faz sentir a falta de tudo e de todos,
até de mim.
Dalva Molina Mansano
19.04.2019