UM RISCO DE CARVÃO

José António Gonçalves

há um risco de carvão na paisagem

multiplicado num prolongamento triangular

quase fazendo a vez duma esquadrilha de bombardeiros

em disciplinada formação bélica

para cumprir com o seu destino

voando por sobre os pinheiros inocentes

ninguém sabe a que apelo longínquo respondem

nem a razão porque se repete sempre a viagem

na mudança tumultuosa das estações

mas nos céus há riscos revoadas de pontos negros

abrindo brechas nos ocasos distantes

no deslumbre das suas desconhecidas missões

na mansidão do olhar dos pássaros

que ficam prisioneiros das mesmas geografias

há um risco em progressão no firmamento

e por um inexplicável momento sonham

como poderiam um dia renascerem como gansos

ou noutra manhãzinha

integrarem um bando na sua emigração

no suspiro breve das estrelas

onde se repetem as noites

e as tardes

não

José António Gonçalves

(inédito.04.09.99)

JAG
Enviado por JAG em 02/11/2005
Código do texto: T66272