A procura do vazio

A data de meu fim, se souber fosse causa de medo,

Hoje, eu estaria contente e despreocupado,

No entanto, eu perduro e isso me causa pânico.

Uma tosse rouca às vezes, será a aranha a coser meus pulmões?

Não! Apenas um pigarro de um fumo engasgado.

Paraíso não há, há apenas o fim: escuridão total.

Ser alimento de vermes é a sina do homem,

Ser Augusto dos Anjos é o desejo do homem,

O espírito que busca o abismo,

O abismo que se sabe indispensável ao homem.

Ó Sêneca, edifica-te para vida, não para morte,

Como percebeste as duas nunca habitam o mesmo lar,

Edifica-te na e para vida, pois, quando a velha chegar,

Só sentira seu beijo gélido e tudo se apagar.

A vida é fogo, ardor e sofrimento inesgotável.

Pobre homem imortal; feliz o perecível.

Conta-me Tirésias está longe ou próximo o fim?

Pois já sou um morto em vida que sofre por viver.

Dante não me viu em seus círculos,

Não serei embalado pela doce lira do infernal Orfeu,

Nem jogarei baralho com o misterioso Fausto,

Esta é vida, do outro lado, o vazio.

Procuro-o, desejo-o e não encontro seu caminho.

Enquanto não o acho, encho a folha branca de palavras mortas,

Pelo menos elas, ó minhas amigas, encontraram onde repousar.