Soneto do nosso tempo
É dessas coisas insanas que o laranja abandonado da tarde nos dá
Joga na brisa esse aroma de alecrim, que enfim perfuma o céu
E nessa alameda longa de sombra em flor, possuo nas mãos o fruto
Colorido e saboroso fruto de éter, bússula apontando ao léu
E ao prová-lo desgrudo do chão dos comuns, dos boçais
e parto ao céu dos inesquecíveis, sobrevoando as casas, o mar
E busco achar-me confortável e sem medo num exílio voluntário
Que ao mirar-me me descobrem seus olhos, sua paz, seu andar
E que caiam-me as lágrimas e que guiem-me os ventos
que seca o sal , que adoça o mel, que apaga os passos
mas marque-me o caminho nessa maré de ritmos lentos
É por acaso apenas um final de tarde no presente
Sem passado nenhum porque foi só buscar-te sem saber
É por acaso o começo do futuro esse perfume não mais ausente