O LIVRO DE THOTH
CAPÍTULO I – UM LIVRO PARANORMAL
Se os meus olhos estão vendo bem, há algo ali no chão.
Parece ser um caderno, uma agenda, ou um livro, sei lá!
Espero não estar equivocado em virtude dessa escuridão.
De fato é um livro e não tem nada escrito. Por que será?
Rua deserta. Levarei o livro comigo para analisá-lo melhor.
Chego a minha casa. Ponho o livro sobre a mesa. Acendo a luz.
Interessante! O livro não tem título. Nada escrito. Nem autor!
Pego uma caneta e vou escrever nele. Que isso! Credo em cruz!
O que escrevi apagou completamente sem deixar algum vestígio.
Duvidando dos meus olhos, escrevo de novo. Sem nenhum prestígio.
As letras tornam a sumir. Meu Pai! É incrível! Nunca vi nada igual!
Volto a observar o livro. Designer diferente. Nem as folhas são de papel.
Não sei de qual é o material. Só sei que esse livro é estranho pra dedéu.
Se não tiver exagerando, creio que pertence ao mundo do sobrenatural.
CAPÍTULO I I – LIVRO INDESTRUTÍVEL
Retorno ao livro apesar de estar bastante receoso.
Como ele é estranho, quem sabe aceitará um desenho?!
Com o lápis crio uma bela gravura de um prato delicioso.
Termino a arte, tudo some. Foi em vão meu desempenho.
De novo me assusto com a nova experiência.
Que diacho de livro é esse que não registra nada!
Quer saber? Vou destruí-lo para apaziguar minha consciência
e também evitar alguma complicação que vir dele originada.
Tentei rasgar o livro, todavia suas folhas não rasgaram.
Tentei cortá-lo, contudo as folhas do livro não cortaram.
Pu-lo no fogo, porém o maldito livro nem se quer queimou.
Estarrecedor! Não posso ficar com tal coisa aqui em meu lar.
O fato é que não terei o controle sobre ele. A saída é deixar
o livro no mesmo lugar que o encontrei e que alguém deixou
CAPÍTULO I I I – LIVRO FLAMÁVEL
A quem pertence o livro? A um deus? A uma bruxa? A um feiticeiro?
Para cumprir meu intento, retorno à rua com “bendito” livro na mão.
O silêncio da alta madrugada me permite ficar envolto por inteiro
nas minhas indagações. O livro aquece muito. Arremesso-o no chão.
Droga! Quase sofro queimadura com esse livro! Ô exemplar desgraçado!
Mais tarde abaixo-me para pegar o dito cujo. Outra vez fico estarrecido.
Do livro crepitam pequenas chamas. Creio que ele logo será consumado.
Ledo engano. O fogo se apaga. O exemplar fica intacto. Desaquecido.
Mesmo com medo, pego o livro do jeito que ficou quando caíra: aberto.
Eu olho para a página íntegra e verifico que existe algo escrito decerto.
Leio o nome de três pessoas masculinas e o endereço de cada uma.
São pessoas conhecidas, mas não íntimas. Moram próximas daqui.
Pousa sobre mim mau presságio. Algo que na vida jamais senti.
Que saco! Mais um novo medo do desconhecido em mim se avoluma.
CAPÍTULO IV – DÚVIDAS ATROZES
Trezentos metros... irei lá, mesmo com esse frio enorme na barriga.
Levo ou não levo o livro? Caso o deixe, ele ficará mais um dia comigo.
Deixá-lo-ei aqui em casa, pois o senso de precaução a isso me obriga.
O que farei com o livro se me envolver numa situação de muito perigo?
Mas se deixá-lo aqui e as chamas surgirem no livro, como já aconteceu?!
A coisa ainda pode piorar se as chamas vierem maiores e mais intensas.
O fogo poderá se alastrar e destruir não só a casa, mas tudo que é meu.
Como é horrível decidir tendo a escassez do tempo e dúvidas imensas!
Levarei o livro. Ficarei de olho nele. Espero que nada de ruim aconteça.
Ganho a rua. No peito, infinitas aflições e várias perguntas na cabeça.
Pus o livro no embornal. Por enquanto está quietinho, como deve ser.
Aproximo-me do endereço que o livro citara. Ouço choros pungentes.
Ao me aproximar das casas dos três homens escuto vozes plangentes
que me dão fortes suspeitas de que algo ruim acabara de acontecer.
CAPÍTULO V – SUMIÇOS NO AR
Ia entrar na casa de um dos homens. Meus olhos se voltam à esquina.
Vi os três homens que tinham o nome no livro com uma companhia
que achei estranha. Ela usava uma máscara de uma espécie canina.
Estava escuro. Dizer se era de um cão, coiote, lobo, raposa não saberia.
Corro em direção dos quatro. Grito nome de um deles. Esforço vão.
Por acaso estão surdos? Distraídos ou não querem mesmo conversar?
Os quatros continuaram andando e ignorando os meus berros. Ah, não!
Assim que me aproximo deles, somem. Isso mesmo! Somem! No ar...
Fico todo arrepiado e tremendo igual vara verde. É demais para mim!
Um pedestre a me ver naquele estado pergunta por que estou assim.
Digo que não é nada, é apenas estafa de uma longa jornada de labuta.
Perguntei ao transeunte se havia visto alguém na esquina sem ser eu.
A resposta dada foi não. Logo um longo silêncio no local apareceu.
Despeço-me do cavaleiro, agradeço-lhe pela gentileza e volto à luta.
CAPÍTULO V I – A VISITA DE ANÚBIS
Retorno à casa que ia entrar antes de ver e seguir aqueles que sumiram.
Encontro uma jovem mulher envolta em lágrimas sobre sua cama vazia,
cercada de parentes e conhecidos. Um voto de silêncio me pediram.
Como ficar calado com a primeira indagação que a cabeça trazia:
Por que todos estão aqui e a dona da casa chora convulsivamente?
A jovem mulher acaba de ficar viúva e prestamos a ela solidariedade.
Sendo verdade, cadê o corpo? Por que ele não está aqui presente?
Anúbis esteve aqui. Levou o corpo à morada dos mortos. Eis a verdade.
A cama vazia é porque o corpo estava sendo velado nela. Anúbis o levou.
Outra vez você fala o nome de Anúbis. Quem é essa pessoa que citou?
Anúbis é um dos deuses do Egito que reside dos mortos a morada.
Tem o corpo humano, porém a cabeça não é de pessoa e sim de chacal.
A morte nos reserva um lugar. É deus Anúbis que nos leva a esse local.
Lá a alma é julgada. Viverá com os deuses? Será extinta? Reencarnada?
CAPÍTULO VII – A MORADA DOS MORTOS E SEUS DEUSES PRINCIPAIS
Deixa-me explicar melhor. Há um lugar que é a morada dos mortos.
Como o próprio nome diz, para lá vão todas as pessoas que morrem.
Seu dono é o deus Osíris cujos procedimentos são corretos, nada tortos.
Para o trabalho perfeito do local, há três deuses que o Osíris socorrem.
Sobre Anúbis, eu já lhe falei. Tem o corpo humano e cabeça de coiote.
Esse deus cuidar das parafernálias de lá e levar para ali os falecidos.
Nesse submundo, o coração do cadáver é arrancado (eis o mote),
posto na balança de dois pratos. Um vai a pena de Maat. Os dois tidos,
Se a balança pender para um dos lados será a morte também espirtual.
O coração será dado ao deus Ammut que o comerá avidamente.
Assim chega ao fim de fato o homem. Vida que não mais produz.
Ammut tem traseira de hipopótamo, cabeça de crocodilo, dorso de leão.
Sabe que no coração fica alma. Ao ser Comido vira uma bela refeição.
Maat é deusa da justiça. Seu adorno no cabelo é uma pena de avestruz.
CAPÍTULO VIII - AGORA A FICHA ESTÁ CAINDO
O terceiro Deus é Thoth. É quem escreve o nome daquele que falecerá.
Enquanto Osíris e Maat têm formas humanas, Ammut é uma anomalia.
Thoth tem corpo de gente e cabeça de animal, a dele, de íbis será...
O que me diz desses deuses? Você que nada sobre eles sabia?!
Amigo, Thoth escreve com fogo o nome do futuro desencarnado?
Contaram-me: o fogo apaga, o nome do próximo cadáver aparece...
Espere um pouco! Joga verde para colher maduro! Está mal explicado!
Um leigo em morada dos mortos, questionar como se de lá soubesse?
Juro que não sabia nada! Até o momento de sua excelente explicação.
Depois do serviço, indo pra casa, vi um livro que me chamou atenção.
Em casa, observei o livro melhor. Parecia ser extraterrestre pelo que vi.
Esquentou demais. Surgiram no livro pequenas chamas que apagaram.
Após suas extinções, li os nomes e endereços. Meus olhos confirmaram
que um dos endereços é onde estamos. Outros dois ficam metros daqui.
CAPÍTULO IX - DÊ-ME O LIVRO
Pela descrição que você deu de Anúbis, eu o vi levando os três defuntos.
A princípio, pensei que era um homem com a máscara de um ser canino.
Gritei o nome de um deles. Fizeram-se de surdos. Foram embora juntos.
Voltei para casa onde deveria ter entrado, sem desprezar o meu destino.
Percebeu agora por que lhe pareceu do mundo dos mortos eu entender?
Dê-me licença, pois vou lá dar minhas condolências à viúva e familiares.
Fique à vontade. Quando voltar, estarei aqui para o livro me devolver.
Gelei. Se for quem estou pensando, eu é que receberei os pesares.
Que o livro se encontra nesse momento comigo, como você adivinhou?
Eu não contei para ninguém que o havia trazido ... já sei! Você chutou.
Não me subestime! Eu sou um deus. Não adivinho. Simplesmente sei.
O livro não é seu, nem tão pouco meu. Você sabe de quem é o dono!
Eu sei. O livro é do Thoth. Ele é que escreve quem terá o eterno sono...
Se quiser me entregar o livro antes de cumprir a etiqueta, recebê-lo-ei.
CAPÍTULO X - FALSO APURO
Entregarei o livro agora. Quero mesmo me livrar dessa preocupação.
Quando vou devolver, meu amigo em Anúbis se metamorfoseia.
Antes de ter o livro diz: abra-o e veja se seu nome está nessa edição.
Tremo da cabeça aos pés. Nervoso, meu dedo cada folha do livro folheia.
Apavorado, finalizo o livro. Digo gaguejando ao Anúbis: não achei nada.
Anúbis recebe o livro, coloca-o num embornal, olha se está bem tapado.
Não sei como caiu daqui! Ah, pouco importa! E solta uma grande risada.
O livro esquentou? Ficou em chamas? Então nenhum nome foi anotado!
Livrando-me do falso apuro, outra vez do nada Anúbis desapareceu.
Tal como ocorrera na esquina da rua, ninguém viu a presença dele, só eu.
Quem me olhou falando com Anúbis, achou-me doido por falar sozinho.
Levo alguns minutos para me recompor. Sinto-me leve e tudo resolvido.
A casa é a mesma de antes, com a mulher revoltada por perder o marido.
Conforto a viúva. Vou às duas outras casas fazer o mesmo; com carinho.
CAPÍTULO XI – O BILHETE
Diacho! O dia está claro! Nem passarei em casa! Vou direto ao trabalho.
Minha produção foi lenta. Fui pego várias vezes cochilando no meu setor.
Cara, você teve uma noite incrível ou péssima. Está em frangalho!
Inventei uma mentirinha boba. Se contasse a verdade seria pior.
Você está péssimo! Vá para casa, descanse e tire o dia para dormir.
Mal o chefe fechou a boca, ganhei a rua, já pensando no meu leito.
Chego em casa, vou direto para o meu quarto a fim do sono usufruir.
Troco de roupa, fecho a cortina, deito-me na cama. Tudo perfeito.
Até eu pressentir um bilhete dentro do bolso da minha vestimenta.
Sento na cama para ler o bilhete. De novo não! o coração não aguenta!
Nada nele escrito. De repente o bilhete esquenta, deixo-o cair no chão.
O papel pega fogo. As chamas se apagam, aparecendo algo escrito.
Que triste! Hoje é o dia de minha morte. Morrerei dormindo, acredito.
Leio o bilhete que diz: Curta a vida, reaveremo-nos na sua desencarnação.
O FILHO DA POETISA