Infância
Vejo os meninos brincando suados embaixo do sol escaldante
Sentindo o louco desejo de estar lá com eles de volta à infância
Suando, sorrindo, gritando, correndo, xingando, chutando uma bola
Jogado nos braços da vida e vivendo hoje em dia os tempos de outrora
Olhando a menina morena tão linda sentada no banco da praça
E vê-la sorrindo, mostrando às amigas que lindo o gol que eu fiz
Os olhos cruzando no espaço num riso que sai, assim, meio sem graça
Sorvendo a água tão limpa e gelada da fonte da praça matriz
Jogando a água pro alto e vê-la caindo em gotas brilhantes
Os dentes mais brancos que as nuvens gigantes que, lentas, enfeitam o céu
As nuvens, qual barcos a vela, que pairam tão calmas em meio ao azul
Olhando os humanos qual fossem formigas perdidas na sua Babel
Sentindo o sangue na pele trigueira salgada sem medo de odores
E o sopro do vento gostoso que chega com cheiro de folhas e flores
As folhas faceiras se agitam e dançam com bulha nos galhos revoltos
Bailando no espaço, na valsa do vento, que as leva em seus braços afoitos
Me lembro da terra girando embaixo de mim sem que eu a notasse
Da pura energia que, então, nos erguia a portar-nos com tal elegância
Da noite tão calma e fria que me induzia a que nela sonhasse
Daquela magia que então existia e se foi ao fugir-me a infância
D.S.