Nem sei se haverá poesia amanhã
encostada na beira do caderno
na lida da palavra diária
dessa estúpida intimidade de juntar o nada
diacho que hoje cada sílaba
era tempero de abismo
cada vírgula arranha o térreo do corte
vão-se os segundos olhando a tonalidade de primavera
que tem às vezes um verso
chorando na solidão das linhas
tão melhor que a minha (de festim)
eu que sou tão amiga do meu peito
pareço que morro
de não ter a cumplicidade da tinta
só o percurso das nuvens
se formam em minhas mãos
no mundo, as horas brincam distraídas
num eco, sufoco minha fala
choro e pranteio o caderno
picadinha junto ao verbo
minto um universo
... nem sei se haverá poesia amanhã