FATALIDADE - Poema de CASTRO ALVES

Feliz fim de semana, amigos. Eu diria ao grande poeta dos escravos: "Antonio... Antonio... Ainda resta uma lágrima pura para eu chorar por nós". Isto se eu fosse Eugênia Câmara, claro. Não o sou, meu nome é ninguém, mas, me chamam de Zuleika ... dos Reis.

Fatalidade

Que fatalidade, meu pai!

ÁLVARES DE AZEVEDO

ADEUS! ADEUS! ó meu extremo abrigo!

Adeus! eu digo-te a chorar de dor!

É o derradeiro suspirar das crenças,

Que se despedem das visões do amor...

Pálido e triste atravessei a vida

Sempre orgulhoso, concentrado e só...

É que eu sentia que um fadário estranho

Meus sonhos todos reduzia a pó.

Mas tu vieste... E acreditei na vida...

Abri os braços... caminhei p'ra luz...

E a borboleta da fatal crisálida

Soltou as asas pelos céus azuis.

O tronco morto — refloriu de novo

Ergue-se vivo, perfumado, em flor,

Abençoando a primavera amiga...

Ai! primavera de meu santo amor!

Porém que importa, se há fadários negros. .

Frontes — voltadas do sepulcro ao chão...

Pedras coladas de um abismo à beira...

Astros sem norte, de um cruel clarão!

Quem mostra o trilho ao viajor das sombras?

Quem ergue o morto que esfriou o pó?

Quem diz à pedra que não desça ao pego?

Quem segue a estrela desgraçada e só?

Ninguém!... Na terra tudo vai... gravita

Lá para o ponto que lhe marca Deus.

Os raios tombam — as estrelas sobem!...

Lutar co'a sorte — é combater os céus!

"Vai! pois, é rosa, que em meu seio, outr'ora

Acalentava a suspirar e a rir...

Deixas minha alma como um chão deserto,

Vai! flor virente! mais além florir ...

"Vai! flor virente! no rumor das festas,

Entre esplendores, como o sol, viver

Enquanto eu subo tropeçando incerto

Pelo patib'lo — que se diz sofrer! ...

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Que resta ao triste, sem amor, sem crenças?

— Seguir a sina... se ocultar no chão ...

... Mas, quando, estrela! pelo céu voares,

Banha-me a lousa de feral clarão!...