VIDA

Vida é não ter a menor idéia do que é a vida

É repetir um gesto que foi repetido

Por um bilhão de pessoas

É só pensar em 69

É a morte dos opositores

É permanecer enclausurado dentro de casa

Diante de um aparelho de televisão

É um general e um caudilho

É inquietação

É uma manifestação enorme

É uma dúvida dilacerante

É um solitário

No avesso do penúltimo sonho

Lúgubre, vazio, angustiante, colhendo a realidade

É um mártir

É um oprimido

É o canto da vida

É o aumento das coisas

É uma idéia, um sorriso, um desejo

É uma passeata

É Deus, é Jesus, é o Espírito Santo

É um canto

É a busca de algo que não existe

E de alguém que não está

É a glória desaparecida

É a infância perdida

É desencanto, é desespero

É o operário é a greve

É a celebração e a morbidez de uma fotografia

É o inóspito é o decoro

Quiçá é a rua com seus espelhos

Onde apenas um gole de bebida

É suficiente para matar a sede

É o espaço onde todos passeiam

É a gruta onde todos se escondem

É lançar um olhar ausente

Para a prostituta que nos estende a mão

É a fúria da opressão

Que atinge um povo noite e dia

É um tédio

É um absurdo

É a fome

E vida é saber

Que dentro de nós está a substância

Que nos levará ao sonho.

JOAQUIM RICARDO
Enviado por JOAQUIM RICARDO em 21/09/2007
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