Sentido

A palavra já não cabe na folha,

não toa com o hoje,

nem veste o corpo,

não serve de roupa,

não convence o discípulo,

não ensina a criança.

Não condiz com o tempo,

nem honra o ancestral.

Não tolera o omisso,

não refuga o insano.

Não converge com o ódio,

não impõe em conflito.

Nunca se estabelece em combate,

não se cria em flagelo,

não reputa ao inocente,

não macula o ímpio,

nem santifica o mártir!

Abre incisivas fendas,

fecha claras veredas,

atravessa muralhas,

encerra fontes.

A palavra talha qual navalha.

Amarga igualmente o ser.

Inventa lembrança de outrem...

Não atura o insensato,

nem consente a covardia.

É tortura disfarçada

na boca de tantos ídolos,

revelando vil algoz.

É sabor doce de fel

na chibata do herói

ao açoite na senzala,

demarcando sua história.

É fonte jorrando mel,

regando o campo de guerra,

minando botões em flor

nos braços da tirania,

encobrindo o véu opressor,

mirando o verbo fruto do amor.

Lucimar Oliveira
Enviado por Lucimar Oliveira em 08/04/2019
Reeditado em 24/06/2019
Código do texto: T6618498
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