Sentido
A palavra já não cabe na folha,
não toa com o hoje,
nem veste o corpo,
não serve de roupa,
não convence o discípulo,
não ensina a criança.
Não condiz com o tempo,
nem honra o ancestral.
Não tolera o omisso,
não refuga o insano.
Não converge com o ódio,
não impõe em conflito.
Nunca se estabelece em combate,
não se cria em flagelo,
não reputa ao inocente,
não macula o ímpio,
nem santifica o mártir!
Abre incisivas fendas,
fecha claras veredas,
atravessa muralhas,
encerra fontes.
A palavra talha qual navalha.
Amarga igualmente o ser.
Inventa lembrança de outrem...
Não atura o insensato,
nem consente a covardia.
É tortura disfarçada
na boca de tantos ídolos,
revelando vil algoz.
É sabor doce de fel
na chibata do herói
ao açoite na senzala,
demarcando sua história.
É fonte jorrando mel,
regando o campo de guerra,
minando botões em flor
nos braços da tirania,
encobrindo o véu opressor,
mirando o verbo fruto do amor.