A culpa é de quem?

Rogo intensa à razão

Que culpa tive?

Não podia cerrar a porta

Ajustado.

Daquilo que construímos na arquitetura amorosa

Sobrou o canto do passarinho

Agora lento e ruminante

Ele sentia a sua ausência tanto quanto eu.

Ausência doía, mas dava tom

Pra mais bela canção já orquestrada

Nas notas frias daquele violão desafinado

Cantava a sua dor

Nas duas notas que não a faziam chorar

Apagou as outras como previdência

Memória falha relativa

Sentia a dor

A dor a sentia

Sentido da dor

Da dor serventia

Alimentou o passarinho pela última vez

Mal sabia

No dia seguinte penas no chão

Apenas no chão

Lá estava ela de joelhos

Ao som de Chega de Saudade

Tentando salvá-las.

Quando percebeu que voavam ao mísero sopro

Desistiu!

Parou a música.

Razão à chamou num canto

Ofereceu-lhe um lenço

E ela se pôs a chorar.

Devolveu o lenço,

enterrou o passarinho.

E aproveitando o luto

Pôs fim àquela história.

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 07/04/2019
Reeditado em 07/04/2019
Código do texto: T6617447
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