A culpa é de quem?
Rogo intensa à razão
Que culpa tive?
Não podia cerrar a porta
Ajustado.
Daquilo que construímos na arquitetura amorosa
Sobrou o canto do passarinho
Agora lento e ruminante
Ele sentia a sua ausência tanto quanto eu.
Ausência doía, mas dava tom
Pra mais bela canção já orquestrada
Nas notas frias daquele violão desafinado
Cantava a sua dor
Nas duas notas que não a faziam chorar
Apagou as outras como previdência
Memória falha relativa
Sentia a dor
A dor a sentia
Sentido da dor
Da dor serventia
Alimentou o passarinho pela última vez
Mal sabia
No dia seguinte penas no chão
Apenas no chão
Lá estava ela de joelhos
Ao som de Chega de Saudade
Tentando salvá-las.
Quando percebeu que voavam ao mísero sopro
Desistiu!
Parou a música.
Razão à chamou num canto
Ofereceu-lhe um lenço
E ela se pôs a chorar.
Devolveu o lenço,
enterrou o passarinho.
E aproveitando o luto
Pôs fim àquela história.