INERME [FLEUMÁTICO]
A felicidade é um estado de espírito,
Alguém já disse, murmurou,
Ou talvez esteja escrito
Nos livros que estudou.
É singular (em desnível) a pista
Para aonde rumam todos:
Juiz, engenheiro, artista
E, comumente, os tolos.
Parte deles que prossegue nem sabe,
Calor, amor, liberdade eles pedem
Outros, sucesso, refúgio, regalo
Conquanto o desejo seja falho
Avançam sem se dar conta
Que suas veleidades de prazer,
De considerável monta,
Podem os abater.
A interior cobrança,
Os contínuos desafios,
O satélite da vingança,
Dos amores o atrito
Mitigam a poesia
Laceram-na
Quando já caída.
Expelem-na
Em aspereza,
Em azedume
Assim não assumem
Que amor é delicadeza...
Meu espírito está desarmado!
O mundo é uma farsa
Sempre o foi e não passa
De etiqueta, praxe, estandarte.
Olha, essa ideia de embate
Não combina com seus traços
Esse grito coibido, envenenado
Não é plenitude nem sabedoria...
Que guerra é essa que você lutaria?
Meu espírito está desarmado!
Não sou soldado nem tanque.
Contra a dor que a sangra
Eu me farei (seu) estanque
Empresto-lhe minha garganta
Se lhe finar a voz.
E não haverá mais prêmio,
Guerreiro atroz
Alcóolatra ou abstêmio
Vencedor e vencido
Apenas versos afinados
Em grande estilo,
Afinal meu espírito está
[desarmado!