O QUARTO DE MELISSA

Houve dia em que o cansaço lhe (a)bateu.

Levantar da cama era tarefa quase impossível.

Preferia manter as janelas fechadas

O quarto no breu

As cortinas das pálpebras distendidas

Os ouvidos tampados.

Tempos difíceis.

Um barulho constante

Veio incomodar

Martelava a ventana

Ruído uniforme

Pertinaz

Nada empático

Com a misantropia

De Melissa

Que se afundava

Nos algodões do leito

O sol, daninho, tentava

Usurpar o assoalho

Pelas frestas da persiana

Apossando-se da pantufa

De panda da garota

As cores do dormitório,

Antes fosco e sepulcral,

Tingiam-se agora de flavo,

Róseo - reflexo das almofadas -

E azul índigo

Decerto pincelado

Pelas pedras de quatzo

Que se acomodavam

Na sua cômoda.

Melissa franqueou os olhos

Pode, então, espiar as matizes

Que redefiniam a alcova

Achou bonito.

Mais atenta,

Descobriu que o sonido

Incessante era um lindo

Bem-te-vi

A visitar a menina

O pássaro tanto bicara

Que conseguiu destravar

A fenestra implacável.

A luz, finalmente,

Preencheu o quarto

De Melissa.

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 05/04/2019
Reeditado em 21/01/2023
Código do texto: T6616256
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