O QUARTO DE MELISSA
Houve dia em que o cansaço lhe (a)bateu.
Levantar da cama era tarefa quase impossível.
Preferia manter as janelas fechadas
O quarto no breu
As cortinas das pálpebras distendidas
Os ouvidos tampados.
Tempos difíceis.
Um barulho constante
Veio incomodar
Martelava a ventana
Ruído uniforme
Pertinaz
Nada empático
Com a misantropia
De Melissa
Que se afundava
Nos algodões do leito
O sol, daninho, tentava
Usurpar o assoalho
Pelas frestas da persiana
Apossando-se da pantufa
De panda da garota
As cores do dormitório,
Antes fosco e sepulcral,
Tingiam-se agora de flavo,
Róseo - reflexo das almofadas -
E azul índigo
Decerto pincelado
Pelas pedras de quatzo
Que se acomodavam
Na sua cômoda.
Melissa franqueou os olhos
Pode, então, espiar as matizes
Que redefiniam a alcova
Achou bonito.
Mais atenta,
Descobriu que o sonido
Incessante era um lindo
Bem-te-vi
A visitar a menina
O pássaro tanto bicara
Que conseguiu destravar
A fenestra implacável.
A luz, finalmente,
Preencheu o quarto
De Melissa.