PERFUME NO AR

Rio, 07/06/2003.

Quando chegaremos a um consenso?

Por que sempre ficamos claudicantes?

Deixamos nosso caminho apenso

Na janela para olhos dos caminhantes

Arquivamos nas vagas da esperança

Tabelas dos desejos da nossa alma,

Pontilhamos metas para seguirmos

E depois mostramos uma página branca

Para proferirmos um discurso da herança

Da humanidade que viveu no século de luz;

Mas que dos meus olhos (forte) arranca

As lágrimas por ver tanta morte na lembrança.

A história nos abre uma janela ampla

Para que venhamos a corrigir erros,

Mas quanto mais doutos ficamos

Mergulhamos num mar de malícia,

Vestimos um manto de apedeutismo

E nos doutrinamos no solipsismo

Tomando vigorosos copos de estultícia.

O poder sem escrúpulos se busca,

Como água, sedentos estão a beber!

O ouro é negro para se vender,

O preço é verde que não dá no chão,

O poder é grande de quem tem na mão

E isto tudo causa grande infração...

E a justiça que é cega não vê

E manda prender um quilo de feijão,

Da fome não encontra o porquê

E as crianças comem como bicho

Vivendo e catando restos no lixo...

Onde está o futuro desta nação?

O solo é seco que dá até dó,

O povo forte tal qual pedra de mó,

A ajuda é do poder e dele só

E vem aí mais uma eleição!

E outra vez vende-se a solução

O ser é perfeito mostra a televisão,

O homem que para tudo dá jeito,

O marido, o pai e filho exemplar.

E nos palanques anda a prometer

Tempos melhores para o povo viver

E tudo só porque tem sede de poder!

Mas isto se findará estou bem certo

Quando no arquivo do coração

Buscarmos as promessas então,

E num revés damos o voto secreto.

A senhora que é cega dos olhos,

Será que é surda dos ouvidos

E também muda da boca

E não tem os outros sentidos?

E pelo olfato não percebe o fedor

Do excremento que os perfeitos

Fizeram pelo chão dos palácios?

Mas os colarinhos são brancos

E a sujeira está muito preta

E estão colocando na gaveta,

Até a poeira do caminho abaixar.

A CPI que investiga a fuga do lar

Dos maridos de colarinhos verdes

Que gostam muito de laranjas

E sentam nos bancos (não da praça)

E que acham até muita graça

Das perguntas feitas pela senhora

Das contas descobertas lá fora.

Por que não se usa a equidade

E se arranca da senhora a venda

Para que veja toda a verdade

E os pérfidos na cadeia prenda?

Ainda há muita esperança,

Ainda há muita criança,

Ainda há muitos amados filhos,

Ainda há os que andam nos trilhos,

Ainda há homens, milhares de mil,

Que buscam o bem deste Brasil!