MINHA CRIANÇA
Ele chegou!
Limpei-lhe o sujo rosto em lágrimas. Dei-lhe chinelos e chão.
A cada dia, o alimento a tempo e a hora. Aquele que entorpece o corpo e restaura em sorrisos o brilho da alma.
Meu seio em doce leite o saciou. Ao ter sede, precisei mergulhar em outras fontes.
O filho era feito das entranhas da vida que do meu útero fez morada. Hera, alma errante infiltrada no meu ser.
Sutil predador, levou fio a fio o meu casulo para tecer em seda os seus delírios.
No lindo invólucro em que guarda a sua essência, a matéria de outro tempo deteriora em miasmas a oportuna idade.
Entretanto...
Minhas mãos continuam plenas de carinho e outros pés encontraram o meu chão.
Minha despensa está farta e, só de pensar no amor que tenho, leite quente do meu seio transborda!
Meu ventre é morada de infinitas cores que desprendem-se em poemas alados de minha alma, deserto adubado com os seus restos.
Tempo... Idade oportuna!
Olho em meu ventre novo corpo em nobre essência. Mística luz transparente, filha predileta do amor: liberdade!