Voz
Ouço da janela um grito
Não sei se de uma criança, ou de uma mãe.
Quem me mostra não é o noticiário do jornal
São meus ouvidos, que a me denunciam.
Não sei se essa voz que entoa canção esta
Sente frio ou medo
Sente fome ou qualquer de todas as angústias universais.
Não sei se essa voz pede uma mão de carícia ou um peito de alento
Se está viva ou se está morta ou se já esteve viva.
Não sei se essa voz canta a busca de si mesmo
Ou se narra as manchetes do jornal que vive de narrar tantas outras vozes mudas.
Não sei o que essa voz diz. Talvez jamais saberei o que tem a dizer.
Mas ela grita, um silêncio gutural.
Ela emerge da escuridão da noite rubra e pinta de um tom agudo a grave música de ruídos da vida solitária da maior cidade do país.
Essa voz existe.
Reclama sua existência, em despeito de tantas existências sem corpo e
com ausente e tanta alma.
Em meu mérito
Ou talvez em mérito de quem a criou
Eu estava ouvindo essa voz. E escrevi para ela um poema.
E enquanto grafava esta cascata de vozes silentes do inconsciente
Doei p'ra esta voz toda a minha existência. Todo o tempo eterno do que se faz presente inteiro no Agora.
Se essa voz não existir. Se não for ninguém e sem matéria perenizar-se na ausência
(Junto de onde cochilam todos os versos perdidos)
Essa voz sou Eu.